terça-feira, 4 de junho de 2019

O efeito do Gua Sha no alívio da Dor

Andrea Leite Barretto Domingues1andrealbd@yahoo.com.br
Cláudia Patrícia da Fonseca Pereira Sequeira2claudiasequeira1981@gmail.com
Diogo Fernando Rodrigues da Mota3diogoteixeiramota10@gmail.com

Resumo
Este artigo visa conceituar o Gua Sha, seus benefícios e como esta técnica atua nos processos álgicos e suas ações no corpo humano. Pretende-se ainda comentar o processo da dor, considerando-se os contributos que poderão possibilitar esta temática.
Palavras-Chave: Gua Sha; Dor.

1Licenciada em Fisioterapia; Especialista em Acupuntura - Universidade de Medicina Tradicional China em JiangXi (China); Especialista em Fisioterapia Respiratória e Mestranda em Educação Portugal; Formadora Pedagógica em MTC;Membro da World Federation of Chinese Medicine Societies (WFCMS).
Formada em Massagem de Reabilitação e Auxiliar de Fisioterapia, Practitioner PNL - Programação Neurolinguística; Terapeuta de Shiatsu, Auriculoterapia e Reflexologia; Aluna do Curso de Acupuntura, Moxabustão e Fitoterapia Chinesa e do Curso de Naturopatia.
Alunos do Curso de Acupuntura, Moxabustão e Fitoterapia Chinesa.

Introdução
O Gua sha é uma técnica de cura tradicional muito usada na Ásia por acupunturistas e praticantes da medicina tradicional do leste asiático em todo o mundo (Nielsen, 2009). Considerada um método da Medicina Tradicional Chinesa (MTC) que tem suas origens na pré-história e um dos tratamentos mais comuns na China; podendo também ser utilizado como método de diagnóstico. Consiste na utilização da raspagem terapêutica da pele através de um instrumento feito do chifre de búfalo, da pedra de jade, colher de porcelana, para estimular áreas específicas e produzir efeitos curativos locais, buscando restaurar as funções orgânicas (Barbalho & Moraes, 2016). 

O Gua Sha é definido como uma modalidade terapêutica que provoca o alívio da dor e da estagnação do sangue (Xue). Está indicado para tratar resfriados comuns, gripes, dores musculosqueléticas (Lee, Choi, Kim, & Choi, 2010), problemas respiratórios como asma, bronquite e enfisema; problemas funcionais de órgãos internos, bem como fibromialgia, espasmo ou lesão grave, e em qualquer caso de dor fixa recorrente (Nielsen, Knoblauch, Dobos, Michalsen & Kaptchuk, 2007).

De acordo com a International Association for the Study of Pain, “a dor é uma experiência multidimensional desagradável, envolvendo não só um componente sensorial mas também um componente emocional, e que se associa a uma lesão tecidular concreta ou potencial, ou é descrita em função dessa lesão” (APED, s.d.). Para a MTC “a dor se desenvolve a partir de uma estagnação de “Qi” (energia) e de sangue ao longo dos meridianos no corpo” (Domingues, Revez, Figueiredo & Benatti, 2015, p.11).

O Gua Sha
O termo Gua Sha vem do chinês e numa tradução literal “Gua” significa raspar ou arranhar, enquanto “Sha” significa areia, pele de tubarão avermelhada. “Sha” também é traduzida como petéquias que se assemelha à erupção terminal da cólera. Por isso, no Oriente, o Gua Sha era utilizado como técnica de fricção para tratamento de distúrbios da cólera e do colesterol  (Nielsen et al, 2007).

Os efeitos benéficos do Gua Sha são causados por suas ações simultâneas na pele, nos tecidos conjuntivos, na linfa, nos músculos, vasos sanguíneos e órgãos internos. O simples ato de raspar tem efeitos tão grandes como a drenagem linfática, as massagens terapêuticas e a ventosaterapia levando à estimulação do sistema imunológico (Barbalho & Moraes, 2016). De acordo com a MTC, o Gua Sha remove a estase “Sha” em tecidos afetados (Braun et al, 2011) e o “Gua” é descrito com mais precisão, sendo o toque repetido e unidirecional que deve ser pressionado com um instrumento de bordas lisas sobre uma área específica lubrificada até que surjam manchas vermelhas ou petéquias “Sha” (Nielsen, s.d.).

A Dor
A dor é um fenómeno subjetivo em que cada indivíduo sente a dor à sua maneira, ou seja, ainda não existem marcadores biológicos que permitam caracterizar objetivamente a dor e por vezes existe dor onde não é possível encontrar uma lesão física que lhe dê origem (APED, s.d.). Por isso, acredita-se que os fatores psicológicos podem influenciar a maneira como os indivíduos interpretam, respondem e lidam com a dor (Domingues et al, 2015).

De acordo com o Imperador Amarelo (Huang Di Nei Jing), um antigo livro de medicina compilado em torno de 770-221 a.C, “a dor vem da estase do meridiano, e desaparece em circulação fluida”, logo, a dor desenvolve-se a partir de uma estagnação de Qi (energia) e de sangue ao longo dos meridianos no corpo (Domingues et al, 2015).

A dor aguda corresponde a um processo biológico de um estímulo nociceptivo aparente como, por exemplo, um trauma; a dor crónica é caracterizada por um processo patológico com maior duração (Onetta, 2005) e o Gua Sha é, geralmente, considerado eficaz tanto para dor aguda como para crônica (Nielson et al, 2007).




Os Efeitos do Gua Sha no Alívio da Dor
A técnica do Gua Sha melhora a microcirculação e a temperatura da pele regulando o sistema da Hemo-oxigenase-1 (HO-1) tendo um papel essencial no crescimento e morte celular (Domingues, Tomas-Carus & Ming, 2018), havendo um aumento significativo na microperfusão superficial da pele, bem como na regulação positiva da HO-1 em múltiplos órgãos internos subsequentes ao tratamento (Braun et al, 2011). É descrita como uma terapia que ajuda a expulsar o tóxico que não pode ser excretado e eliminado por processos fisiológicos; e dependendo da quantidade e da forma de pressão aplicada, pode ativar o crescimento de fibroblastos (Domingues, Tomas-Carus & Ming, 2018).

O tratamento com Gua Sha aumenta a microcirculação local para uma área tratada e esse aumento pode desempenhar um papel na diminuição local e distal da mialgia (Nielsen, 2007). Isso pode ocorrer devido ao aumento do fluxo sanguíneo superficial em 400% nos primeiros 7 minutos mantidos por um período de 25 minutos (Nielsen, 2009). Outra hipótese está no extravasamento de sangue induzido pelo Gua Sha e o dano controlável do tecido cutâneo que pode levar ao processo de cicatrização, incluindo o aumento do nível de citocinas pró-inflamatórias e a diminuição do nível de citocinas imunossupressoras; à medida que o tratamento aumenta a microcirculação, ocorre uma troca mais rápida de substâncias entre o sangue, a linfa, o fluido intersticial e as células ativas imunes infiltradas. Isso altera o microambiente do tecido da pele tratada (Chen, Liu, Liu, Zhang, Huang, Zang et al, 2016).

Neste tipo de tratamento, o paciente não sente dor durante ou após o tratamento, mas em alguns casos aparece uma contusão na área e a pigmentação desaparece em poucos dias sem deixar vestígios (Barbalho & Moraes, 2016). Embora a raspagem implique abrasão ou ferimentos na superfície da pele, esta permanece intacta, não havendo abrasões (Nielsen, s.d.). As áreas que apresentam maior instabilidade energética mostram, além da hiperemia, uma pigmentação mais profunda que indica a estagnação dos fluidos vitais como Xue e energia (Qi) dos meridianos energéticos (Barbalho & Moraes, 2016).

Conclusão
A técnica Gua Sha como outras técnicas da MTC, tem um vazio significativo de estudos e os poucos sobre este assunto abordaram apenas o alívio de dores como a dor lombar, a dor no pescoço, e melhora no ingurgitamento mamário pelo uso da técnica. O aumento da perfusão sanguínea é um conhecimento parcial do biomecanismo do Gua Sha. Por isso, mais estudos são necessários para elucidar outros biomecanismos associados ao seu efeito terapêutico.

Referências Bibliográficas
Associação Portuguesa para o Estudo da Dor (APED) (s.d.). O que é a Dor?Disponível em: http://www.aped-dor.org/index.php/sobre-a-dor/a-dor/13-o-que-e-a-dor
Barbalho, M. S. M. & Moraes, P. H. (2016). The Effects of the Gua Sha technique (western view) on the flexibility of the posterior Chain: series of cases. Manual Therapy, Posturology & Rehabilitation Journal, Revista Terapia Manual, v14, 373, pp.1-5.
Braun, M., Schwickert, M., Nielsen, A., Brunnhuber, S., Dobos, G., Musial, F., Lüdtke, R. & Michalsen, A. (2011). Effectiveness of Traditional Chinese “Gua Sha” Therapy in Patients with Chronic Neck Pain: A Randomized Controlled Trial. Pain Medicine, v.12, pp. 362-369.
Chen T., Liu N., Liu J., Zhang X., Huang Z., Zang Y. et al. (2016). Gua Sha, a press-stroke treatment of the skin, boosts the immuneresponse to intradermal vaccination. Peer Journal, v.4:e2451, pp. 1-16.
Domingues, A. L. B., Tomas-Carus, P. & Ming, Y. C. (2018). Una visión general del Gua Sha y su utilización en la celulitis: un estúdio de caso. Revista Internacional de Acupuntura, v.12, n.2, pp. 50-52.
Domingues, A., Revez A., Figueiredo, I. & Benatti, L. (2015). A dor e os efeitos da Acupuntura: Incidência em patologias reumáticas. Revista de Desporto e Atividade Física. V.1, pp. 9-14.
Lee, M. S., Choi, TY., Kim, JI. & Choi, SM. (2010). Using Guasha to treat musculoskeletal pain: A systematic review of controlled clinical trials. Chinese Medicine; v5:5; pp.1-5.
Nielsen, A. (2007). Gua Sha and the Scientific Gaze: Original Research on an Ancient Therapy in a Call for Discourse in Philosophies of Medicine. Project Demonstrating Excellence, Union Institute & University Cincinnati, Ohio.
Nielsen, A. (2009). Gua Sha Research and the language of integrative medicine. Journal of Bodywork and Movement Therapies. v.13, pp. 63-72.
Nielsen, A. (s.d.). Gua Sha: A Clinical Overview.Chinese Medicine Times eJournal. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/228707813_Gua_Sha_A_Clinical_Overview.
Nielson, A., Knoblauch, N. T. M., Dobos, G. J. Michalsen, A. & Kaptchuk, T. J. (2007). The Effect of Gua Sha Treatment on the Microcirculation Surface Tissue: A pilot Study in Healthy Subjects. Revista Explore; v.3(5); pp. 456-66.
Onetta, R. C. (2005). Bases Neurofisiológicas da Acupuntura no Tratamento da Dor. Monografia do Curso de Fisioterapia da Unioeste.
Wang, Bing. (2013). Huang Di Nei Jing Su Wen: Princípios de Medicina Interna do Imperador Amarelo. São Paulo, Editora Cone.

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